interzona

8 de dez. de 2025

o que eu fiz em 2025

eu detesto retrospectivas de final de ano.

primeiro que os anos são uma mentira criada por nós pra contar o tempo e criar motivo pra todo ano fazer uma festa e gerar uma economia baseada em datas festivas. afinal, quando você tá pensando de forma crítica, você tem que perceber no mundo que quem está por trás das coisas é quem está lucrando com a existência daquilo. logo, não é absurdo nenhum alguém chegar a conclusão de que o réveillon é financiado pelas empresas de fogo de artifício. retrospectiva de final de ano é uma repescagem de todo produto feito durante o ano - todo mundo sabe disso.

segundo que não tem retrospectiva neutra. retrospectiva de um fã de filmes, por exemplo, incluiria os lançamentos do tal ano... algo que pra mim não faz sentido, porque eu não assisto filmes em geral - nem os desse ano e nem os dos outros. retrospectiva do spotify também é a mesma coisa. a retrospectiva mais "geral" que tem é a de notícias do ano, e ao mesmo tempo, também é a com mais viés. quem disse que jornalista tem que ser parcial? ninguém.

meu wrapped
a ideia de fazer uma retrospectiva implica que a pessoa tenha a algo a dizer ou a rememorar sobre o ano em questão. fico feliz que esse não seja o meu caso. ah, e eu também eu tenho uma memória que me impede de lembrar com grandes detalhes qualquer coisa que tenha acontecido há mais de seis meses. 

dito isso, quero fazer aqui a minha retrospectiva: 

meu ano começou em goiás. um terrível presságio, com todo respeito. viajei com minha família (que incluia meu pai, minha mãe, meus irmãos, meu tio e a esposa) e minha namorada. o lugar que a gente ficou hospedado era um airbnb, que era uma casa com piscina, um teto e mais nada. os únicos móveis na casa eram a geladeira, um fogão e camas que pareciam colchonetes. na periferia de uma cidade que já era periferia de goiânia - localização perfeita.

o turismo em goiás é uma coisa meio triste. principalmente porque é algo típico de quem é de brasília ou de outro estado do centro-oeste e não tem dinheiro para ir mais longe que isso. não tem praia, a maioria do que era floresta nessa parte do estado já virou fazenda de gado ou plantação de soja. viajar pelo goiás é uma vibe - um monte de plantações gigantescas e entre elas você encontra cidades pequenas que incluem sempre uma pamonharia na beira da estrada.

quando você faz esse caminho, inclusive, você entende porque essa galera do agro acha que é americana. você por acaso já fez o caminho brasília-goiânia? você vai vendo a transição entre a nossa visão de mundo de brasília e indo lentamente a um destino que se assemelha a uma versão tupiniquim do texas. na estrada, você só vê caminhonetes gigantescas e mercados de atacado no maior estilo costco. e claro, pamonharias diversas.

devo dizer que até que eu fiquei admirado com essa visão de goiás. não que eu goste dessa vibe de interior americano, eu mesmo tenho é medo. mas de certa forma, eles conseguem imitar muito melhor do que o resto do brasil (que também tenta copiar). eu tenho que defender o goiás contra o pessoal de balneário camboriú, que é muito mais tosco. vamo centro-oeste.

...pessoal de goiás quer imitar os americanos até na bandeira

minha estadia em goiás foi curta. fiquei lá por sete longos dias e eles incluíram: um passeio no maior shopping coberto da américa latina; uma excursão junto à carreta furacão (com direito ao fofão e ao ben 10 fazendo acrobacias em cima de um ônibus que parecia que ia tombar a qualquer momento) pela cidade mais religiosa do centro-oeste; e a minha caça a um maço de camel amarelo, que incluiu 10km de busca e uma visita em todas as distribuidoras e tabacarias da cidade. 

foi em goiás que eu vi pela primeira vez a cachaça jamel - versão líquida do camel
de volta em brasília, vida normal. foram praticamente 3 semestres de faculdade em apenas um ano. uma atitude de vanguarda da universidade de brasília. transformar o conceito de semestre em algo que não significa mais "seis meses" exige uma certa coragem institucional. culpa da greve do ano passado. foi ano passado? eu nem me lembro mais.

o que eu fiz depois de janeiro? também não me lembro. até onde eu sei, passei alguns meses com o hiperfoco no centro acadêmico: estudei todas as obrigações que eu teria de fazer dentro do c.a. e consegui formar uma chapa para tentar reformar o centro acadêmico do meu curso.

em abril, no meu aniversário, eu ganhei dois presentes. um foi um bobó de camarão delicioso, que foi o meu almoço e janta do dia 15 e o almoço do dia 16. e se tivesse como, eu tava comendo ele até hoje. 

bobó

o outro foi uma revisão na minha bicicleta. nota: eu amo pedalar. não que eu seja daqueles ciclistas que realmente se dedicam e pedalam bastante - eu só gosto de dar uma voltinha pelo meu bairro. a revisão era necessária porque além dos freios, que já tinham dado adeus, o pneu de trás da bicicleta rasgou por inteiro quando minha mãe foi andar com ela e não sabia que o freio tava quebrado. o pino do freio furou o pneu e minha mãe quase foi junto com ele. bicicleta sem freio era novidade pra ela.

não era novidade pra mim, que sabia muito bem o que tinha acontecido com o freio. no longínquo ano de 2024, depois de tomar uma dose de ácido, decidi imitar o albert hofmann e saí de bicicleta. eu sempre faço um caminho de 8km: 4 pra ir e outros 4 pra voltar. quando eu cheguei no ponto em que eu começo o caminho de volta, as coisas começaram a ficar mais engraçadas que o normal e as luzes dos postes e dos carros ficavam zigue-zagueando pra mim. pensei: é melhor eu voltar logo. pedalando, eu vejo uma coisa voar da minha bicicleta. parei e voltei pra analisar o que era: o meu único freio que ainda funcionava. a volta pra casa nesse dia foi uma aventura.

a reforma da bicicleta deu certo. quer dizer, meu pai que levou a bicicleta na revisão, já que ia ser um presente. o problema é que ele não entende muito de bicicletas e acreditou em tudo que o mecânico falou pra ele que tinha problema. claro, mecânico é um profissional que não mente. um mecânico nunca mentiu pra conseguir vender um conserto que não é necessário - isso é uma coisa que eles não fazem. no fim, o pneu que foi trocado era uma porcaria e de brinde ganhei diversas peças que não faziam diferença nenhuma. atualização: o pneu estourou em outubro, não antes de me fazer derrapar e cair algumas vezes.

depois de junho... também não me lembro de muita coisa. eu assisti à copa do mundo de clubes porque o fluminense tava jogando. não que fizesse muita diferença, porque há muito tempo eu já não vejo tanta graça em assistir futebol. mas copa do mundo cria uma ganância a mais no brasileiro. meu time caiu na semi-final. o que isso significa? que ele está entre os QUATRO melhores times do mundo. QUATRO! e ainda bem que a copa acabou. dá pra perder jogo tranquilamente sem precisar sair do país.

note o desespero
o ano também marcou o fim de um relacionamento de dois anos que eu tive. eu já tava tanto tempo namorando, que eu não lembrava como era ser solteiro - lembrando que minha memória só dura uns 6 meses. esqueci de como eram algumas coisas desse lado da vida. foi quase como uma coisa nova, também. quando a gente não precisa agradar nenhuma pessoa (nem a pessoa amada), a gente fica mais livre pra ser feliz da melhor forma possível. e livre pra desagradar a todos também. e isso é lindo. foi bom namorar. eu gostei.

claro que isso significou ter que botar a minha própria vida em ordem, já que eu não podia mais viver somente observando a vida de outra pessoa. e eu odeio isso. ter que viver é muito ruim. 

e aí chegamos no meu problema: ter que reconhecer a doença mental. parar de negar é horrível. a negação é importantíssima ao bem-estar, porque o problema deixa de existir quando você não pensa nele. ou nega a existência dele. o problema é que, eventualmente, a doença mental impede você até de fazer isso, e aí tudo desanda.

por mais que eu não tenha percebido exatamente, eu tenho vivido em um estado depressivo ansioso por alguns anos já. quando eu saí do ensino médio, eu senti que todos os meus amigos já não eram tão próximos de mim assim. ou não tinham muito em comum comigo... e eu? eu viajava na maionese. entrei em geografia no IFB por pura pressão de entrar numa faculdade e depois vacilei em não me inscrever no curso que eu queria quando eu tinha nota pra passar de primeira. isso tudo baseado no meu devaneio maluco de que eu ia me mudar pra recife - um sonho de cidade. a gente nunca realiza nossos sonhos.

por dois anos, a minha vida se resumiu em fazer o mínimo possível e com o menor entusiasmo possível, usando droga, me arrastando por duas faculdades e vivendo todo dia dormindo mal, comendo pior ainda e sem nenhuma visão de futuro ou desejo de qualquer tipo. meu único sonho era ganhar na mega sena. mas esse, quem não tem? o problema é que eu comecei a ficar pior. e aí quando eu perdi 10kg em um curto espaço de tempo devido à anorexia, eu fui atrás de algo pra resolver o problema.

marquei consulta com um psiquiatra. ele me receitou um antidepressivo e outro remédio pra dormir. o resultado foi uma melhora quase imediata de qualquer transtorno da minha vida. parece que eu levei meu cérebro numa assistência técnica. o truque do antidepressivo em fazer a pessoa não ficar triste é fazer a pessoa não sentir absolutamente nada, até que a depressão para de ser um problema. não sente nada, não fala nada... parece que todas as conversas que eu tive depois de começar a tomar o remédio são aquelas conversas fiadas de quando acaba o rolê e você tá esperando o uber chegar, sabe? uma paz de espírito gigante em não se importar com nada.

o problema que foi mais difícil de resolver foi a falta de dinheiro. eu não tenho um emprego formal, então o tempo todo eu vivo na base da murrinhagem e de fazer alguma coisa pra levantar uma grana se eu precisar. eu não como no restaurante universitário porque a janta lá é 6,10. o salgado é 6 reais na banquinha certa. e 10 centavos as vezes é janta, né? 

outra coisa que fiz o ano inteiro: tirar foto de arara

nesse ano, aprendi muita coisa. acima de tudo, como viver que nem gente. as vezes me falta o tato para me portar em sociedade. não gosto de dar bom dia pros outros na rua, não sei quando tô falando alto, como dar em cima de alguém e nem como receber os outros em casa. mas eu ando melhorando, eu juro.

aprendi muita coisa recentemente e ando tentando melhorar! a gente tem sempre que saber viver. ando me dedicando na faculdade e tentando sempre fazer coisas novas e diferentes. tentando dar um gostinho a mais pra vida... e está funcionando.